“Nenhuma revolução vai ser vitoriosa sem a participação ativa das mulheres negras” (Zezé Pacheco)

Por Raquel Catalani (Abong)

Neste #JulhodasPretas, a Abong promoveu um debate com lideranças de organizações e movimentos sobre o tema das mulheres negras e o Bem Viver. Com a mediação de Débora Rodrigues, da direção executiva da Abong, estiveram presentes Nilma Bentes, do Centro de Estudo e Defesa do Negro (CEDENPA), Zezé Pacheco, do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), Kátia Penha, da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ), e Makota Celinha, do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (CENARAB).

A proposta deste diálogo foi a de conhecer e discutir caminhos que mulheres negras, indígenas, latino-americanas e caribenhas têm proposto como outras formas de viver em sociedade, retomando a ancestralidade que caminha com os saberes dessas mulheres e que clama pelo direito a existirmos todas e todos com dignidade.

Iniciando o debate, Nilma Bentes explicou como o conceito de bem viver foi incluído na luta das mulheres negras: “hoje a gente fala de bem viver articulado com teko porã, ubuntu, florestania, decrescimento, feminismo decolonial, pois eles vem de diferentes lugares e se completam”, afirmou, explicando que são ideias de vários povos que têm como princípios comuns a não mercantilização da natureza, o respeito à ancestralidade, o não consumismo, a cooperação ao invés da competição e uma economia que esteja submetida à ecologia. Apresentou também uma proposta de criarmos uma década de cuidado e valorização da população negra, especialmente das mulheres e crianças.

Zezé Pacheco apresentou a realidade das mulheres negras pescadoras, denunciando a lógica de desenvolvimento dominante que vem destruindo os territórios: “uma lógica racista, extrativista, patriarcal, violenta que nega a existência e o território das comunidades tradicionais, especialmente as pesqueiras que estão em torno dos bens naturais importantes como a água, manguezal, vento”. Trouxe ainda a importância deste mês de luta que revela as desigualdades sofridas pelas mulheres negras e que sem elas não é possível pensarmos em uma outra sociedade: “as mulheres negras estão na base da pirâmide, são elas quem seguram e sustentam esse país, portanto nenhuma revolução vai ser vitoriosa sem equidade, sem garantia de direitos e sem a participação ativa das mulheres negras”.

Em seguida, Kátia Pacheco apresentou a luta das mulheres quilombolas, entrelaçada com a luta das pescadoras: “nós somos mulheres quilombolas pescadoras, extrativistas, quebradeiras de coco, somos diversas no território e em todos os biomas, à frente da geração de renda, mas invisibilizadas pela sociedade”. Denunciou também a luta constante travada pelas mulheres quilombolas com o estado brasileiro: ”é o estado que mais viola, que mais mata, que mais prejudica, não regularizando as terras das comunidades quilombolas”.

Resgatando valores de cuidado e coletividade da tradição das religiões de matriz africana, Makota Celinha enfatizou a necessidade de reverenciarmos as mulheres negras que tiveram papel fundamental para a resistência, preservação e ressignificação da cultura da diáspora africana no Brasil. “Ser ubuntu é ser também sankofa, andar pra frente mas sempre olhando pra trás, nunca esquecendo de onde viemos. Só sou Makota Celinha porque piso nas pisadas dessas mulheres que me antecederam.” Afirmou ainda que, diante da necropolítica e do genocídio deste governo que tem a população negra como alvo, as mulheres negras podem fazer a diferença: “eu acredito que nós possamos fazer a diferença como fizeram nossas ancestrais. Esse 25 de julho cria a ideia de que nós temos que nos ressignificar, de novo. Só não podemos permitir que eles nos destruam.”

Confira a íntegra deste potente debate clicando aqui

 

23/07/2021 16:06:59

Categoria: Artigos

Autor: Gestor Conteúdo