Garantir a liberdade das ONGs é defender o interesse nacional

A atuação de organizações da sociedade civil é a expressão viva do pluralismo de ideias e sua liberdade está garantida na Constituição. Querer controlá-las é, em última instância, tentar silenciar liberdades constitucionais. O Supremo Tribunal Federal, em 06/03/2019, decidiu que “são inconstitucionais os dispositivos legais que tenham a nítida finalidade de controlar ou mesmo aniquilar a força do pensamento crítico, indispensável ao regime democrático”.

Desta forma, é gravíssima e repugnante a informação de que, em reuniões oficiais e que envolvem um grande número de ministérios, integrantes do atual governo apresentem de forma expressa propostas que afrontam a democracia no país. A Constituição brasileira veda qualquer tipo de interferência do Estado na criação, no funcionamento ou mesmo no posicionamento das organizações da sociedade civil brasileiras. É cláusula pétrea a autonomia da sociedade civil assim como a liberdade de imprensa e a liberdade econômica. As propostas citadas na reportagem, e constantes em documentos de circulação interna do governo, somente encontram parâmetros em outros regimes autoritários ao redor do mundo, nos quais as liberdades de imprensa, de livre manifestação e de associação foram suprimidas para dar espaço a autocracias ditatoriais.

Os ataques e as perseguições do governo Bolsonaro à sociedade civil são uma lamentável constante em sua atuação política. Iniciativas com intuito de controle das ONGs já foram anteriormente apresentadas pelo Poder Executivo e rechaçadas pelo Parlamento Brasileiro – como no caso da Medida Provisória (MP) 870/2019. Também em dezembro de 2019, agentes da Agência Nacional de Inteligência (Abin) foram à Cúpula do Clima (COP25) para monitorar (espionar) ONGs brasileiras ali presentes. Além disso, no Brasil, não foram poucas as vezes que o próprio Presidente da República desdenhou da Constituição, participando de manifestações cujos propósitos atentavam contra os demais poderes da União. Em declaração recente, Bolsonaro chegou a reclamar por não conseguir “matar esse câncer chamado ONG”.

Apesar da insistente e repugnante campanha de difamação das ONGs por parte de agentes do governo, vale lembrar ainda que já existe no ordenamento jurídico brasileiro regulamentação para organizações do terceiro setor – o Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC), composto pela Lei n. 13.019/2014 e Decreto n. 8.726/16.

O Conselho Nacional da Amazônia Legal, colegiado inepto, sem participação social e de resultado quase nulo na defesa da floresta, deveria apresentar ao país algum plano para a diminuição do desmatamento, do crime ambiental, da grilagem e das queimadas. Ao invés disso, o que vemos é a confecção de um plano para silenciar os críticos ao governo e para sufocar a democracia.

Sob Bolsonaro, a democracia, assim como as florestas e seus habitantes, correm enormes riscos. Neste sentido, as organizações abaixo assinadas conclamam toda sociedade brasileira para se somar às iniciativas de defesa dos direitos dos povos indígenas e dos povos tradicionais e em apoio a luta na defesa da Amazônia, da democracia e dos direitos constitucionais.

Assinam:

ACT Promoção da Saúde
AMAR Associação de Defesa do Meio Ambiente de Araucária
Amigos da Terra – Amazônia Brasileira
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB
Associação Brasileira de ONGs – Abong
Associação Mineira de Defesa do Ambiente – Amda
Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre (AMAAIAC)
Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida – APREMAVI
Associação Mico-Leão-Dourado
Centro Brasil no Clima
Cidades Afetivas
COESUS Coalizão Não FRACKING Brasil
Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre)
Conectas Direitos Humanos
Delibera Brasil
FASE – Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional
Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento- FBOMS
Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena – FNEEI
Fundação Grupo Esquel Brasil
Fundação SOS Mata Atlântica
Fundação Tide Setubal
Geledés Instituto da Mulher Negra
Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero
Greenpeace Brasil
Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030 (GT 2030)
Iniciativa Verde
Instituto Alana
Instituto Çarakura
Instituto Centro de Vida – ICV
Instituto Climainfo
Idec – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social
Iepé – Instituto de Pesquisa e Formação Indígena
Instituto de Defesa do Direito de Defesa – IDDD
Instituto de Estudos Socioeconômicos – Inesc
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – Ipam
Instituto Democracia e Sustentabilidade – IDS
Instituto Fé, Paz e Clima
Instituto Global Attitude
Instituto Humanista para Cooperação e Desenvolvimento – Hivos
Instituto Igarapé
Instituto Internacional ARAYARA
Instituto Internacional de Educação do Brasil
Instituto MIRA-SERRA
Instituto Pro Bono
Instituto Socioambiental – ISA
Instituto Sou da Paz
Instituto Talanoa
Mapa Educação
Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais
Observatório do Carvão Mineral
Observatório do Clima
Observatório do Código Florestal
Observatório do Petróleo e Gás
Organização De Desenvolvimento Sustentável – ODS
Organização dos Professores Indígenas do Acre (OPIAC)
ponteAponte
Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político
Processo de Articulação e Diálogo, PAD
Projeto Saúde e Alegria
Rede Conhecimento Social
Rede das Organizações Não Governamentais da Mata Atlântica – RMA
Rede de Cooperação Amazônica – RCA
Rede Justiça Criminal
SAVE Brasil – Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil
Terra de Direitos
Toxisphera Associação de Saúde Ambiental
Transparência Brasil
Transparência Capixaba
Uneafro Brasil
WWF Brasil
350.org Brasil
movimentos

10/03/2021 18:32:52

Categoria: Notícias

Autor: abong